ESTILO PERIGOSO

Estudo norte-americano mostra que o piercing colocado na região da boca oferece uma série de riscos à saúde.

O uso do piercing se tornou tão popular quanto a tatuagem, mas é preciso ficar atento para não colocar a saúde em risco. Estudos mostram que o adorno causa inflamações e até lesões que podem levar ao câncer. Ainda mais quando o acessório é colocado

na boca ou nas imediações, podendo prejudicar os tecidos moles, além de dentes e gengiva.
Problemas referentes a instalação deste tipo de acessório já foram comprovados pela Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, em estudo recém publicado no “Journal of Clinical Orthodontics”, publicação científica especializada da área odontológica.
De acordo com a pesquisa, o piercing pode mudar a disposição da língua, alterar a posição dos dentes (criar espaços entre eles), além de provocar infecções e hemorragias. “Quem usa aparelhos ainda corre o risco de prender o acessório e sofrer ferimentos”, alerta o cirurgião dentista Maurício Miyazaki, de Rio Preto.

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Segundo o dentista, esses estudos mostram que 99% dos usuários já tiveram alteração dos tecidos na cavidade oral. Os resultados variam de processos inflamatórios crônicos até lesões que podem levar ao câncer. “Caso se tenha o acessório na boca, é necessário um acompanhamento rigoroso para a prevenção de qualquer problema, pois quanto maior o tempo de uso, maiores as chances de se contrair doenças.”


Bactérias e atritos 
Com Miyazaki concorda a especialista em odontologia estética Maristela Lobo, de São Paulo, que observa que, ao ser colocado em regiões de tecidos moles, como a língua e os lábios, o piercing traz o risco de favorecer o acúmulo de bactérias. Maristela observa que isso acontece porque a língua é um músculo de superfície rugosa, com as chamadas papilas gustativas. “Portanto, o local da perfuração do piercing se torna propício a juntar microorganismos que agem como porta de entrada para infecções de ordem sistêmica, e podem gerar sérios comprometimentos ao organismo da pessoa”, diz.
Além disso, não é raro que piercings colocados em lábios levem a defeitos na região do atrito da peça, ou seja, próximos ao dente e/ou à gengiva. “Por ser sólido (aço cirúrgico,na maioria das vezes), o piercing promovefricção com a superfície da gengiva e do dente e, com isso, provoca a retração gengival, exposição da raiz ou até mesmo desgaste dos tecidos dentais”, afirma.
O vício do tabaco também é um outro complicador para o uso de piercings. O cigarro, por si só, já é um fator de risco para as doenças bucais. Quando associado ao piercing, aumenta as chances de surgir um câncer ou alguma doença bucal. A falta de hábito de escovação e higiene bucal associada ao acessório também é um facilitador de inflamações que podem passar desapercebidas em um primeiro momento.

Alargadores
Quem deixa de usar o piercing e apela para o uso do alargador também está sujeito à dificuldade da higienização. “Nesses casos, o cuidado com a limpeza deve ser redobrado”, explica Maristela Lobo.
Ela lembra que, seja qual for o acessório usado, se for de acrílico, aço cirúrgico e/ou madeira, gera atrito nos dentes e na gengiva e, como resultado, dificulta a alimentação. A especialista informa que as consequências do uso de qualquer acessório intra ou extraoral devem ser avaliadas antes por profissionais
da área da saúde. 


Alternativa
Uma alternativa sem comprometer a saúde, de acordo com Maristela, é usar um pequeno cristal que pode ser colocado sobre a superfície do esmalte do dente, com um adesivo especial, sem qualquer tipo de desgaste. “Esse tipo de acessório não traz prejuízos aos tecidos dentais e torna-se uma boa opção para quem quer investir em um sorriso diferente”, diz.

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SAIBA MAIS
■ Por ser a língua um músculo formado com nervos e vasos sanguíneos, sua perfuração tem consequências. Além disso, como a cavidade bucal é um ambiente úmido, com temperatura relativamente constante e que abriga mais de 300 espécies de bactérias, fungos e vírus, o resultado de qualquer ferida mais profunda será agravado por essas condições 
Outras ameaças
■ Fratura dental
■ Retração e destruição gengival
■ Úlcera traumática (lesão dolorosa que tem como principal exemplo a afta)
■ Granuloma piogênico (tumor vascular benigno que sangra facilmente)
■ Leucoplasia (mancha ou placa esbranquiçada aderida à superfície da língua)
■ Papiloma (tumor epitelial benigno na forma de verruga)
■ Displasia epitelial (alteração da camada que recobre a língua)
■ Fibroma (tumor benigno do tecido conjuntivo)
Fonte: Maurício Miyazaki, cirurgião dentista de Rio Preto

ENTENDA OS RISCOS
■ Infecções - As feridas criadas pelo piercing podem facilitar a entrada de bactérias no organismo
■ Endocardite - Se as bactérias entrarem na circulação sanguínea, podem levar ao desenvolvimento de endocardite (uma inflamação das válvulas do coração)
■ Transmissão de doenças - Piercing oral é um potencial fator de risco para a transmissão dos vírus de herpes e da hepatite B e C
■ Nervo danificado ou sangramento prolongado - Dormência ou perda de sensibilidade no local da perfuração ou problemas de movimentação podem ocorrer se os nervos forem danificados
■ Danos aos dentes - Os dentes que entram em contato com a joia da boca podem trincar ou quebrar. Um estudo americano relatou que 47% das pessoas usando joias de haste longa por quatro anos ou mais nessa região tinham pelo menos um dente danificado
■ Dificuldades nas funções orais - Podem resultar em dificuldade na mastigação, engolir alimentos e falar claramente. Isso porque o piercing estimula uma produção excessiva de saliva
■ Reação alérgica ao metal - Uma reação de hipersensibilidade (denominada dermatite) para o metal pode ocorrer em algumas pessoas.

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